18 de setembro de 2024

CVC: no contrassenso da estratégia, o efeito manada ataca novamente

Prolongar a vida útil de uma companhia , além de mantê-la competitiva e lucrativa, deveria ser o objetivo principal de qualquer liderança. Nesse cenário, com o perdão a Fernando Pessoa, inovar é preciso, em um mercado que não é preciso.

Estratégias de inovação, quando bem executadas , não são apenas um meio de se manter relevante em um mundo em constante mudança , mas também uma tática fundamental para acelerar o crescimento. Buscando se manter relevantes , diversas companhias nos últimos anos adotaram programas de corporate venture capital, os famosos CVCs, para investir em startups que podem explorar novas tecnologias , entrar em novos mercados e inovar de maneira que seria difícil de realizar internamente . Um movimento natural, já que essa estratégia , além de impulsionar a competitividade, tem potencial de diversificar as fontes de receita e reduzir a dependência de mercados tradicionais.

Há inúmeros exemplos de empresas que se beneficiaram de suas iniciativas de CVC, como Google Ventures, Intel Capital e Salesforce Ventures. Estas são apenas algumas das que têm historicamente colhido grandes recompensas de seus investimentos em startups , como retornos financeiros significativos e a integração de novas tecnologias e ideias para impulsionar crescimento e inovação contínua.

No entanto, até o primeiro semestre de 2023, apenas cinco CVCs foram estruturados no Brasil, contra 21, em 2022, e 24, em 2021, conforme aponta a última consolidação de dados da indústria realizada pela ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital). Este número, considerando que 2023 foi um ano cheio de incertezas econômicas e ajustes no mercado, é surpreendente e um tanto decepcionante. Justamente agora, quando as empresas deveriam estar mais ousadas e proativas em suas estratégias de inovação, a hesitação parece prevalecer. Não é de hoje que sabemos que priorizar inovação em tempos de crise é essencial para colher frutos maiores no crescimento pós-crise. De acordo com a McKinsey & Co, as corporações que investem em inovação durante a crise conseguem ‘bater ’ o mercado, crescendo em média 30% a mais nos anos após a crise.

Qualquer um que já abriu um app de banco para investir no mercado de ações sabe que, para vencer, a lógica é comprar os ativos na baixa para vender na alta, mas não é isso que estamos observando . A impressão que dá é que as corporações compraram na alta, estão estagnadas durante a baixa e esperando tudo ficar caro de novo para voltar a se estruturar e comprar. Tudo indica que o ‘efeito manada ’ ataca o mercado novamente.

Chega a ser sem lógica. Exatamente agora, quando os ativos estão mais desvalorizados é que deveríamos observar um movimento de aumento na estruturação dos fundos. Faz muito mais sentido, do ponto de vista estratégico , aproveitar um momento de fragilidade do mercado para estruturar a casa de forma bem feita e surfar da melhor forma possível a onda da recuperação , do que esperar que o cenário se reerga para começar a correr atrás da onda, às pressas e perder o timing de entrada nas melhores startups.

Isso me lembra uma metáfora que ouvi uma vez de um empresário : “olhar esses movimentos de mercado é como assistir a um jogo de futebol de crianças . Todos correm para o lado em que a bola está indo, não existe muita estratégia , não existe um plano, é simplesmente um movimento de massa para lá e pra cá”.

Obviamente , um CVC é mais do que apenas um instrumento de ganhos financeiros . É, principalmente, uma forma de uma corporação obter vantagens estratégicas , inclusive aqueles CVCs 100% focados em ganhos estratégicos sabem da oportunidade que têm nas mãos agora. O que antes era uma corrida desenfreada no mercado de inovação para garantir os melhores negócios e acabava por levar os valuations às alturas, hoje, permite às corporações que se mantenham no jogo com o acesso aos melhores empreendedores e oportunidades de alavancagem da estratégia.

O momento de retração geral é paradoxalmente o melhor momento para ser audacioso. Quando todos estão recuando , aqueles que avançam podem capturar valor a preços descontados e preparar o terreno para um futuro de liderança e inovação. As empresas que entenderem isso e agirem agora estarão melhor posicionadas para liderar e prosperar no futuro.

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